sábado, 2 de novembro de 2013

O LOBO DA ESTEPE - DER STEPPENWOLF

































Art by: Carlos BG

O lobo da estepe – Der steppenwolf
Hermann Hesse
Record, 1986 
Tradução: Ivo Barroso

 

 

 

Man muss noch Chaos in sich haben, um einen tanzenden Stern gebären zu können. (Thus spoke Zarathustra - Friedrich Nietzsche)

 
"É preciso, ainda, ter o caos em si mesmo para dar à luz a uma estrela cintilante." (Assim Falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche)


Harry Haler o homem, sentado num degrau qualquer, observaria: Um cão asseado? Uma veste bem talhada? Um andar coeso?    

Harry Haler o lobo, com os pés na estepe, observaria: Uma presa fácil? Um céu entreaberto? Ouviria outros uivos?  Preveria a caos?
  
Há uma segunda porta a nossa espera, não é o caminho do céu, nem tampouco do inferno. Somos mais que uma soma, somos a essência de nós mesmos. Achar o sentido das coisas é fácil, difícil é achar-se no sentido nas coisas.
Uma porta, num momento qualquer, se abrirá e essa porta é uma decisão das tuas somas e das tuas essências, a opção deste ou daquele caminho.
Sede forte quando abrires essa porta, amanhã ela estará em outro ponto, não é o caos que buscamos, mesmo no caos há alguma ordem, portanto fique atento a porta. As metáforas da racionalidade e da fantasia terão suas iscas. Terão o mesmo grau de ofuscamento.
O resultado de uma busca será inevitavelmente a fábula humana, a razão e o sentimento terá, igualmente, um par de óculos a nos nortear ou a nos confundir. O caos dual - sentimento e razão -, ambos com regras, cada qual terá o seu preço, ou ficamos com o sentimento e o seu caos, ou ficamos com a razão e o seu caos.
O impasse diante do dual caminho. Já que lobos e homens coexistem, a tragédia será inevitável, o destino desses dois paralelos, os caos se juntam, coabitam, se enlaçam, debatem e concluem: Somos o caos cada qual com sua particularidade. 
Hesse é inconfundível, permeia nossa mente, conhece nossas entranhas, nos persegue como o “Alfa” da cadeia alimentar. Percebe-nos, e sabe, há mais de homens e lobos em nossas veias do que imaginamos.
Supomos um lobo, insone, a nossa espreita, nos conduzindo por uma estepe, atento aos abrigos, a camuflagem, a espera, ao bote, a fantasia, ao viés e as regras do caos dual.

O velho João Guimarães Rosa, traduzido para o alemão por Curt Meyer-Clason, em todas as suas ‘veredas’, nos daria uma saída que igualmente seria dúbia, um terceiro caminho, igualmente com seu caos, talvez a certeza de uma dúvida, seria esta, mais uma advertência do que uma saída.
Tenha no colete as cartas certas, jogue-as ao léu,  e siga as regras do caos.
Na dúvida, aprenda a rir. 

Bem-vindos à alcateia.

Vale a leitura! 



2 comentários:

  1. "Achar o sentido das coisas é fácil, difícil é achar-se no sentido nas coisas." Eis a chave da porta, pois não basta que ela exista. Saber, ver e tocar não nos leva a adentrá-la, e adentrá-la é pular no abismo, buscando sobrevoá-lo para não ter uma queda livre.
    Bela reflexão!

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  2. Fátima,
    Vale para todos os lobos, seja na estepe, seja fora dela. A pele que nos reveste é fina e frágil.
    Obrigado! Célio

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