Art by: Carlos BG
O lobo da estepe – Der steppenwolf
Hermann Hesse
Record, 1986
Tradução: Ivo Barroso
Tradução: Ivo Barroso
Man muss noch Chaos in sich haben, um einen tanzenden Stern
gebären zu können. (Thus spoke Zarathustra - Friedrich Nietzsche)
"É preciso, ainda, ter o caos em si mesmo para dar à luz a uma estrela cintilante." (Assim Falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche)
Harry
Haler o homem, sentado num degrau qualquer, observaria: Um cão asseado? Uma
veste bem talhada? Um andar coeso?
Harry
Haler o lobo, com os pés na estepe, observaria: Uma presa fácil? Um céu entreaberto?
Ouviria outros uivos? Preveria a caos?
Há
uma segunda porta a nossa espera, não é o caminho do céu, nem tampouco do
inferno. Somos mais que uma soma, somos a essência de nós mesmos. Achar o
sentido das coisas é fácil, difícil é achar-se no sentido nas coisas.
Uma
porta, num momento qualquer, se abrirá e essa porta é uma decisão das tuas
somas e das tuas essências, a opção deste ou daquele caminho.
Sede
forte quando abrires essa porta, amanhã ela estará em outro ponto, não é o caos
que buscamos, mesmo no caos há alguma ordem, portanto fique atento a porta. As metáforas
da racionalidade e da fantasia terão suas iscas. Terão o mesmo grau de
ofuscamento.
O
resultado de uma busca será inevitavelmente a fábula humana, a razão e o
sentimento terá, igualmente, um par de óculos a nos nortear ou a nos confundir.
O caos dual - sentimento e razão -, ambos com regras, cada qual terá o seu
preço, ou ficamos com o sentimento e o seu caos, ou ficamos com a razão e o seu
caos.
O
impasse diante do dual caminho. Já que lobos e homens coexistem, a tragédia
será inevitável, o destino desses dois paralelos, os caos se juntam, coabitam,
se enlaçam, debatem e concluem: Somos o caos cada qual com sua particularidade.
Hesse
é inconfundível, permeia nossa mente, conhece nossas entranhas, nos persegue
como o “Alfa” da cadeia alimentar. Percebe-nos, e sabe, há mais de homens e
lobos em nossas veias do que imaginamos.
Supomos
um lobo, insone, a nossa espreita, nos conduzindo por uma estepe, atento aos
abrigos, a camuflagem, a espera, ao bote, a fantasia, ao viés e as regras do
caos dual.
O
velho João Guimarães Rosa, traduzido para o alemão por Curt Meyer-Clason, em todas as suas ‘veredas’, nos daria uma saída que igualmente seria dúbia, um
terceiro caminho, igualmente com seu caos, talvez a certeza de uma dúvida, seria
esta, mais uma advertência do que uma saída.
Tenha no colete as cartas certas, jogue-as ao léu, e siga as regras do caos.
Na dúvida, aprenda a rir.
Tenha no colete as cartas certas, jogue-as ao léu, e siga as regras do caos.
Na dúvida, aprenda a rir.
Bem-vindos
à alcateia.
Vale
a leitura!
"Achar o sentido das coisas é fácil, difícil é achar-se no sentido nas coisas." Eis a chave da porta, pois não basta que ela exista. Saber, ver e tocar não nos leva a adentrá-la, e adentrá-la é pular no abismo, buscando sobrevoá-lo para não ter uma queda livre.
ResponderExcluirBela reflexão!
Fátima,
ResponderExcluirVale para todos os lobos, seja na estepe, seja fora dela. A pele que nos reveste é fina e frágil.
Obrigado! Célio